Wednesday, March 7, 2007

Isto dá que pensar...

Hoje tive vontade de ajudar uma pessoa. Curiosamente é alguém que eu não conheço de lado nenhum, com quem nunca falei e nem me lembro do seu nome. Aliás, nem foi a mim que este "alguém" pediu ajuda...

A verdade é que tudo isto é completamente insignificante quando ouvimos um pedido de ajuda tão sentido. Eu já vi alguns doentes em estado terminal mas nunca tinha ouvido ninguém pedir ajuda para morrer. Foi muito...estranho. E esta talvez não seja a palavra mais indicada para descrever a sensação que tive. Fiquei com calor e logo depois com frio. Um frio terrível, que me fez ter vontade de voltar para casa a correr e nunca mais entrar num hospital.

Ora bem...isto vindo de mim, uma pessoa que quer ser médica desde que se lembra de ser gente, pode parecer inexplicável. Depois de tanto estudo, de tantos exames e de alguns estágios chatos, senti vontade de largar tudo e ser outra coisa qualquer...estilo jardineira! Isto porque por mais dentologia, bioética e direito médico que me ensinem, ninguém me preparou para ouvir isto! Pensando bem, não sei se há maneira de nos prepararem para isto. E mesmo que houvesse, provavelmente não funcionava comigo.

Parece-me que não tenho estômago para ver estes doentes, o que só prova que sou mais fraca e menos corajosa que eles. É muito difícil ver um doente sofrer tanto, ter tantas dores e não poder fazer nada para ajudar, além de aumentar a dose de opiáceos (ajudam a diminuir as dores) e benzodiazepinas (dão sono). Este é o lado mau da Medicina: não poder fazer curar. Seria bom que o nosso ministro da Saúde não afastasse as urgências dos nossos doentes, para que estes não fiquem mais doentes só de pensarem na distância a que se encontram de um hospital... E sobretudo para que não adiem a ida ao médico, nem que seja para terem a certeza de que está tudo bem! Isto é que seria um serviço de saúde UNIVERSAL!

E dei comigo a pensar na Lei. A nossa Lei e o Códido Deontológico proibem a eutanásia. Por um lado: ainda bem! Por outro: ainda mal! Foi então que percebi que não tenho opinião sobre este assunto. Não tenho e não sei se quero ter. Mas sei que nunca me sentirei com poder para "ajudar" alguém a morrer, apesar do pedido de ajuda que ouvi hoje me ter ido directo ao coração...

Portanto, continuo cheia de dúvidas. E nem escrever me "desbaralhou".

No comments: