Wednesday, May 30, 2007

Pro-raio-que-as-parta!

Faz hoje uma semana que vivi uma das experiências mais aterradoras da minha vida. Chega a ser cómico que, depois de tantos meses a deambular (ai não! diz-se...estagiar!) pelos hospitais, seja necessário ir à consulta de comportamento alimentar no Hospital de Santa Maria para ficar arrepiada.

Mas, vendo bem, não era caso para menos. Passo a explicar. Antes da consulta, as "doentes" são chamadas para se pesarem. Já conhecendo a rotina, todas elas se apresentam com um índice de massa corporal bem inferior ao normal, ar angustiado e uma lágrima no canto do olho. Mas, umas sozinhas e outras com as mães, lá se vão pesar. Quando saem da sala de enfermagem trazem uma expressão ainda mais carregada e de infelicidade profunda. E a lágrima escorrega do canto do olho e atrás dessa vêm mais... E eu, após um longo período de observação, continuo a tentar compreender este fenómeno.

O que leva estas jovens e tantas outras mulheres a fazerem isto a si próprias? Não é preciso ter excesso de peso, nem tão pouco ser obeso. Isso também não é saudável. Mas ser infeliz é certamente muito menos saúdável.

Ainda hoje, ao pensar neste episódio, sinto pena. Muita pena mesmo. Começam por querer ser magras e fazem-no pelas mais variadas razões. Entretanto, as pessoas que as rodeiam tentam encontrar uma causa. Agora percebo que não há causa. Quando muito poderão haver factores desencadeantes, que têm nestas jovens efeitos devastadores. Mas não são esses factores que determinam a doença. São elas mesmas. Elas decidem ser magras e depois decidem ser doentes. Adoece a mente e adoece o corpo. E nem mesmo quando todos os acidentes ósseos são visíveis por cima da roupa, quase tão bem como num esqueleto, elas estão satisfeitas. E choram.

E eu sinto mais pena. E sinto também que nunca vou ser capaz de ajudar estas pessoas, simplesmente porque sem empatia não se faz nada em medicina. De facto, a ideia de ter uma consulta em que as pessoas choram antes, durante e depois da mesma, não me fascina mesmo nada...

Devia haver mais sites na internet a promover a vida e a saúde. Mas em vez disso, temos sites de anorécticas e bulímicas. São as proana e promia. Mas também podiam ser as proestúpidas, proinfelizes e proassassinas.

Eu adoro a liberdade. É sem dúvida uma das melhores conquistas do mundo mas, por vezes, faz tanta falta um pouco de censura... Talvez não censura mas, pelo menos, bom senso. Tal como o homicídio e a violação são crimes, também a promoção destas doenças o é. Espero que não haja sites a promover o homicídio nem a ensinar como praticá-lo... Mas se houver, tambem sou contra!

E portanto, daqui envio essas doentes mentais e criadoras de sites assassinos para o raio que as parta! Vão comer chocolate. O chocolate é doce e estimula a libertação de endorfinas. Mas elas não devem saber isto. Sabem muito sobre calorias mas não sabem nada da vida.