Friday, September 7, 2007

Tiras de papel que decidem coisas

Tiras de papel com nomes, datas e sei lá que mais. Juntá-las, tirar uma ou mais e já está. Em escassos minutos tudo fica desta forma resolvido.

Por si só, a palavra sorteio desassossega-me. Transmite logo a ideia de que não há outra forma de chegar a determinada conclusão. A situação piora bastante quando os sorteados não estão presentes, tão pouco têm direito a ser ouvidos e contestar a decisão final é impensável e totalmente infrutífero. Apesar de tudo, sorteia-se...

Ora eu que nunca tive muito boa sorte nos sorteios (isto para não dizer azar), não costumo sair-me muito bem nessa área. Invariavelmente a história repete-se.

O próprio conceito de sorteio implica que a sorte de uns determine o azar de outros. Aparentemente resta-me esperar por uma nova era da minha vida em que o factor determinante não sejam os sorteios mas sim o esforço e dedicação com que fazemos as coisas.

Sunday, September 2, 2007

Para quem tem medo


Quando era miúda tinha medo do escuro. Um medo incompreensível, não relacionável com nenhum acontecimento específico e que me fazia temer a hora de dormir. Tudo servia como pretexto para adiar essa maldita hora.

Assim sendo, os meus pobres pais (sobretudo a minha mãe, pois os pais não têm muita paciência para estas mariquices) viram-se obrigados a desenvolver mecanismos de coping. A minha mãe começou por me fazer companhia. Sentava-se ao lado da minha cama numa cadeirinha de madeira vermelha com flores pintadas, tipicamente alentejana, esperando pacientemente que eu adormecesse. E eu lá me fui sentindo cada vez mais segura: que diabo!, a minha mãe estava ali para me defender, fosse lá do que fosse... A pouco e pouco vi aumentar a distância entre a minha cama e a cadeirinha, até que a cadeirinha passou para o lado de fora do quarto.

"Eu ainda aqui estou" - dizia a minha mãe para me tranquilizar. E eu confiava. Era verdade. Ela estava ali.

Entretanto eu cresci. E pouco antes de entrar para a escola primária alguém me ofereceu um boneco amoroso e muito especial. Vestia um fatinho bonito em tons de verde e azul claro com estrelinhas amarelas, bem como um gorro comprido a condizer. Tinha uma cara simpática e sorria para mim. Mas o que era realmente especial era a sua capacidade de iluminação. Eu só tinha de o apertar contra mim e ele acendia-se imediatamente. Lembro-me como se fosse hoje de tapar a cabeça com o lençol, apertar o boneco contra mim e...eis que o medo desaparecia!

Hoje em dia tenho outros medos. Tenho medo das responsabilidades, ou melhor, de não estar devidamente preparada para elas. Tenho medo do futuro e de errar em relação às escolhas que o determinam. Tenho medo de não estar à altura do que as pessoas que amo esperam de mim. Tenho medo de pessoas más e tenho medo que estas me façam mal. Tenho medo de não ser feliz e de não fazer os outros felizes.

Crescer é, sem dúvida, um processo muito duro. Os nossos pais deixam de poder estar sentados à nossa cabeceira (pelo menos não literalmente) e deixam de poder guiar os nossos passos. E aí começa para qualquer jovem um verdadeiro desafio: tornar-se adulto. Ser adulto é pensar, fazer escolhas, decidir e, como se tudo isto não bastasse, arcar com as consequências, boas ou más, das ditas escolhas. Mas ser adulto é também errar e seguir em frente, sem desanimar e aprendendo sempre com cada erro. É claro que há adultos que são tudo menos isto, pois para ser adulto basta ter idade para tal.

No meio de tudo isto uma coisa é certa: se há pessoas que nos tocam pela sua maldade, também há pessoas que nos tocam pela sua bondade, amizade, dedicação e amor. Essas pessoas merecem que eu arranje força para vencer os meus medos.

Sim... porque para os medos que eu tenho, não há boneco luminoso que aguente tanto aperto! Mas se houver, por favor avisem-me. Eu compro...